15.6.08

PLATAFORMA DE SUBJETIVIDADES
Andando pelas ruas
Vagando com meus pensamentos
No entrecorte de sombras do dia
Com o pensamento cheio de lampejos...

Do que se trata a interpretação dos “eus” no mundo em que não existe nós?
São corpos expostos nus ao sol e à poeira
De comportamentos
De compartimentos de indivíduos condicionados a um arquétipo
Bloco polido de “eus” arrastado ao longo da história
Desgastado e bruto em sua base
Trincado nas arestas pelas correntes que o carrega e propulsiona
E nem minimamente sabemos para onde vamos
Na tarefa da verdade absoluta das coisas
É paradigma dito
Ditado
Sem nunca sabermos quem é o obscuro ditador
... onipresente e covarde.

Assim, derivando perdido pelas ruas
O que vem à minha cabeça sobre a interpretação do que sou...

A música sinestésica do Pink Floyd, ou o cenário social das construções sonoras de Chico Buarque; a poesia de Neruda; a imagem da obra de Niemeyer; a crítica existencialista de Sartre; os mil platôs de Deleuze e Guattari... Tudo isso emana do meu conteúdo, ao mesmo tempo em que a vida me atravessa o corpo em fragmentos ...

... barulho da ambulância próximo ao marulhar do mar ... cheiro do almoço próximo ao lixo ... sombra do edifício no mormaço do asfalto ... a beleza feminina enquadrada na degradação humana ... paradoxos de uma verdade pronta e mal resolvida.

... minha voz não consegue falar ...

E eu...
O que sou?
O que penso?

Paradoxalmente sou eu mesmo...

Recrio minhas imagens e interpretações em
devaneios
Saio ao mundo em compreensão diminuta
Afetando-me pelas circunstâncias do outro,
Faço registros rápidos, não há tempo para ter tempo...
Mesmo assim desacelero o tempo num gesto inconcebível a me questionar:

Como comunicar a forma e o modo do que se passa comigo?
Como falar do que observo, do que assimilo, do que compreendo dos outros?
Será que posso tomar autoria do que é muito mais doutros do que meu?

Preciso me colocar livremente.
O outro em mim deve ter a mesma liberdade,
Numa instância em que não exerço o condicionamento da enunciação.

Coloco-me,
Coloco a possibilidade, e imediatamente me retiro,
Abro lugar a outras interpretações e interações
Concluo que não me pertence o que penso,
Nunca me pertenceu... Isso é liberdade!

Apenas construí minhas relações...
Captei ao meu modo com antenas sensoriais que me pertencem
Cada um de nós as possui apontadas em alguma direção ou para todos os lados
Desatei minúsculas amarras que nos aprisionam sutilmente

Essa é a estrutura do trabalho que se perfaz:

... conteúdo, fragmentos, devaneios, impressões...

E tudo, praticamente tudo possui relações

O que ao longe transparece liso, polido, lustroso...
É a impressão primeira das dobras da vida

Ficamos parados contemplando a mesma
Ou imergimos na descoberta dos sentidos?

Cada um ao seu modo, abrindo portas, elegendo caminhos, deixando rastros...
Mas ao mesmo tempo construindo subjetividades e as abrindo numa plataforma imanente de coletivização dos desejos

E até mesmo voltar não se dará da mesma maneira...



+ paradoxalmenteeu 028

Exercício textual sobre a PLATAFORMA DE SUBJETIVIDADES.

Um comentário:

Henrik disse...

pra sentir é necessário sensibilidade...