VENTO
Sentir essa força invisível
Que retira dos corpos o estado paralítico
Como num flerte ao movimento
És envolvente
E sussurras aos nossos ouvidos palavras de galanteio
Num som suspirante que nos leva à dança
És levemente pesado
Pois carregas consigo toda a gentileza que te constitui
Um eu de muitos outros
Carregas a brisa
Levas a direção das chuvas
E dormes em agasalho de orvalho
Sem ti saudoso vento
Não compreenderias as coisas por completo
O gracioso arquear dos galhos
O correr superficial da areia como ampulheta quebrada
O movimento da espuma salivante do mar
Quero lançar tudo a ti vento
E falar que tudo que é vívido te saúda
E mesmo os dissimulados
E sólidos como rochas
Se esfacelam em grãos miúdos na sua presença
Na sua frieza estremecem
Até mesmo para as palavras
És a concepção do inaudível
Do que se esvai através de você
Guardas consigo as memórias
Dos que ninguém quer escutar
Pois pensamento é sopro vazio
Saudoso vento, saudoso pensar
Guarda-os com carinho macio
Rememores aqueles que um dia quiseram falar...
paradoxalmenteeu 018