28.7.08

CAIS DE BELÉM

Todo esse ruído televisivo
Toda essa embriaguez sonora
Desse ir e vir embarcado
Do gole do álcool consumido
Tudo isso me atordoa
Tudo isso me apaixona
Da gargalhada em estampido da senhora
Ao motor enrouquecido
Todo esse horizonte líquido me apavora
Todo esse desconhecer do desconhecido...

(...)

A minha não liberdade de ir a qualquer lugar
É oportunidade de sonho, utopia escrita, desejo em desenho...

O tempo do meu pensamento é a permissão de ir ao encontro comigo mesmo

Todos os outros, que vivem sob o delírio de minha observação incompleta, são completamente despretensiosos do meu olhar...

Minha interpretação afinal, não é nada.

(...)

O debate da correnteza com o sol dormido
Traz rasante fractura do espelho iluminado
Na nitidez da imagem inoportuna
O corpo espectável ao fim-do-dia
No horizonte da aurora solar padecida
Faz do início da noite espectro da lua sombria...

(...)

Um brinde solo
Ao sol que também se vai sozinho
Nesse mundo andarilho
Há muitos momentos de descaminho
Embora aqui, só
Percebo muitos a debruçar seus pensamentos em rios de infortúnios
Rostos tristes
Semblantes esperançosos
Beijos e mais beijos apaixonados
Todos resplandecem nesse salvo momento de permissão ao parar
Glorioso tempo
Primoroso instante
Agora, tornou-se ouro até o mais roto ser humano
Uma luz que dignifica aos que sobrevivem
Recomeço incerto aos fins dos dias...

Assim, ainda somos capazes de almejar outros tempos no horizonte!

(...)

O sol decai lentamente
Assim como
Pouco a pouco
A garrafa se faz vazia
São contagens líquidas de instante
De lembranças que sua presença ausente enuncia
Explico tão contraditórios pensamentos
E ao mesmo tempo não tenho respostas
Pois de muitos antagonismos se fazem uma única verdade
Verdade você.

(...)

Chegada da embarcação
Observo olhares que avistam o atracadouro após viagem cansativa
Vontade, desejo e rompimento da solidão
Encontro terrestre que se torna enlace
Intercepção de braços após longa despedida...

(...)

Sob o mesmo sol que em mim projeta
Imagino raios luminosos tocarem seu rosto
Desviaria minha atenção do horizonte
Pois elegi a ti a beleza mais completa
Não me questiones sobre minhas escolhas
É direito meu
Implícitos e que me despertam
Seria como rever verdade certa
Questionar o beijo do rio no oceano
É assim, desculpe-me, que correm desejos insanos...

(...)

Quantos são os seres que contemplam oceanos?
No instante profano do sol em despedida
Quantos casais, amantes e suicidas
Reafirmam sob o sol compromisso de viver

Viver é oceano no sol da despedida
Pois contemplamos profanos casais sob compromisso
Da mesma forma que o vento empurra o sol em precipício
A nuvem em ave faz rastro celeste
Ainda não sei o que clamo
Ainda não me precipito em te dizer...

+ paradoxalmenteeu_032