29.2.08

SEMENTE

Fecho meus olhos
E imagino ser o grão de vida semeado no dia anterior
Está escuro
Estou sozinho
Encoberto de terra negra e fecunda
Que me abraça no seu calor materno
Respiro pouco
Para ouvir meu corpo
E a chuva que branda é sinfônica
Me toca na possibilidade do amanhã
Fico imaginando cores, desenhos e texturas
No meu pensamento noturno
Sem nunca ter visto nada além da clausura
Estou envolto
Cristalizado
Em estado latente
Sou a simples recordação do que nunca fui
E a certeza de ainda não ser
Germina dentro de mim a vida
A vaga idéia da luz branca dos meus pensamentos
Aguardo o instante de deixar de ser trevas
A transição ofuscante da ausência para a presença
Dar a luz
Deixar de ser ponto
Grânulo aterrorizado
E me metamorfosear em linhas fototrópicas
Dançantes ao vento
Ser abrigo de pássaros enamorados
E teatro ao canto de um novo nascimento
Crescer em árvore frondosa
Com ramos para tocar o céu
Copa convertida em sombra projetada aos pés
E solitário
Espalharei meus versos ao vento
Numa anemofilia poética de procura
Cartas de folhas abertas
Desprovidas de envelope ou endereço
Simples grãos de pólen
Atravessando campos aos montes
Vencendo o tempo e a distância de alguém perdido
Quero ao fim encontrar descanso
Em corola perfumada
Entregar-me ao sono
Quero germinar parte de mim distante
Como pensamentos fugidios
Sem domínio
Sem pertencimento
E também sem mim
Transformado em substância livre e frutificada
Sou eu no outro
Como idéia madura sem conclusões
Repousado em chão pintado de preto.


+ paradoxalmenteeu 006

Nenhum comentário: